"Homenzinho"

       POESIAS & CRÔNICAS  

 

Duas lágrimas surgiram.
Ficaram às bordas dos olhos
à espera da barra da blusa
ou de um dedo avexado.

Ficaram às bordas dos olhos
como se não soubessem descer.
E só de um piscar, cedo ou tarde
não poderiam fugir.

E lado a lado desceram.
Fossem à boca, fossem ao queixo, fossem ao chão,
eu as deixei descer.

Me aguçando as faces, me irritando o rosto,
me arranhando a alma,
eu as deixei descer.

Me fizeram ruas,
me deixaram trilhas.

E então reencontraram o caminho
há tempos lacrado na infância
por todos que estavam na ânsia
de me ver virar “homenzinho”.

E não viram.