Confissão a Vinicius

       POESIAS & CRÔNICAS  

(Ao mais coloquial dos poetas)

 

Tudo começou quando li pela primeira vez, por volta dos vinte anos, um livro da mesma idade: “Para Viver um Grande Amor”. E a partir de então, provisoriamente, abandonei o sonho de ser poeta. Não que houvesse um sonho explícito, mas a arte sempre me emocionou. Sempre tive mais necessidades lúdicas que práticas, a confidenciar para uma folha de papel em branco.

 

Mas nunca havia lido nada que falasse a minha alma com a simplicidade e beleza de Vinicius de Moraes. Pinçava poemas de outros poetas e poetisas, mas nada se comparava ao encantamento pela obra e principalmente pelo modo despojado com que o “poetinha” transitava pela vida.

 

Vinicius foi quem me despertou a vontade de ter nascido 50 anos antes, pra poder testemunhar os melhores anos da história política, futebolística e musical do mundo, e do Brasil, em particular. Não me importaria de estar morrendo agora, ou até mesmo de já ter morrido. Mas de certo, presenciaria o burburinho cultural das décadas anteriores, se assim o fosse.

 

Sempre quis ser mais velho do que sou. Ouvir histórias de anciões. Ver filmes antigos ou sobre os tempos antigos. Só a arte nos remete a isso. Sinto que cheguei atrasado.

 

Não renego os tempos modernos. Mas tenho a impressão, e é só impressão, que apesar de ser fascinado por tecnologia e ter acompanhado de perto a evolução de todas as correntes tecnológicas, vejo em contrapartida, pessoas atendo-se a discussões e comentários cada vez mais fúteis e bitolados através da solidão coletiva na teia mundial de computadores.

 

É claro que não me proponho a discussões filosóficas, psicológicas ou sociológicas sobre a influência de todo esse ferramental sobre nossa era, principalmente sobre a “galerinha antenada” ao espaço cibernético e seus inseparáveis smartphones, a qual apelidei de "geração cabisbaixa".

 

Também não se trata de algum tipo de carranca ou fobia. Apenas vejo paradoxalmente como na canção “A Novidade”, de Paralamas e Gil, uma pequena parcela desta nossa sociedade tupiniquim sendo co-alfabetizada e aculturada ao mundo anglo-saxão em tom blasé, contrastando com a maioria esmagadora na “ofegante epidemia”, permita-me Chico, dos que cruzam o limiar da miséria em direção à pobreza, graças ao assistencialismo social que os mantém a distância, pois damos-lhes um salário, só pra que mantenham seus filhos na escola. Só não damos a escola.

 

Antes, tínhamos a vida revolucionária sem justificativa tecnológica aparente. Eram a poesia e a bossa, não é Vinicius? Dava-se tempo a um passarinho, de pousar na triste cadente bomba atômica, e voar. Agora, temos tamanha tecnologia revolucionária e veloz, aparentemente sem vida: “Indo ao banheiro vomitar” Curtir  Comentar Compartilhar

 

Nos resta a "Dialética", do poetinha...

 

 

E o belo trabalho de Laerte Marquesini e Daniel Lellis Siqueira, sob a 7ª de Beethoven e sobre o texto de Vinicius...