Exercício dos Sentidos

(Frente à atrofia tecnológica)

Este verso foi inspirado em uma grande amiga, que compartilha comigo bons trechos de vida.

Minha amiga mais lúdica em relação as artes, investigadora da alma humana em geral, felina em particular. Mas quanto à vida diária e sua praticidade necessária, sempre guerreira, como todas as amigas que tenho. Afinal, bastaria uma inconsequente a me acompanhar pra que declamássemos juntos, numa dessas madrugadas, ao deparar com um morador de rua:

‘Por mais frio que sejas, ou esteja,

Não há meias, cobertor, travesseiro ou papelão

Que saiba do frio que sinto em minh’alma

E me aqueça.’

Foram muitas madrugadas com Mari. Inclusive numa delas me acordou pra realidade de uma fase em que morei por um bom tempo no fundo do poço, me dizendo que levei barraca, lamparina e repelente.

Tão logo a conheci, fui compelido a exercitar os sentidos de me conter diante da beleza que ela contém. Daí surgiu o verso.

Existem raros amigos cujo tempo e a distância não interferem na dinâmica do reencontro. Como se desfrutássemos do convívio diário, mas tivéssemos milhões de histórias pra contar de ontem pra hoje. Sem aquele constrangimento causado pela falta de intimidade.

Somos amigos eternos. De convívio não tão freqüente, tanto pelas atribulações diárias, quanto pela timidez digital que nos permite acompanhar, de vez em quando, um dia “postado”, prostrados nas janelas da web.

Sintetizando os momentos que vivemos juntos, volto ao tempo, em que triangularmente, na voz e violão do genial Giovani Marangoni, Mari e eu dançávamos e recitávamos aos berros no salão, "Avião", de Djavan. Que por ser tão fidedignamente executada pelo Geva, chega até a dar pra ouvir essa interpretação original, no timbre da voz do meu amigo... ouçamos Djavan enquanto viajamos, eu e Mari, na voz do Geva...

Aproveito a oportunidade, para apresentar-lhes Mari através de seus poemas, e agradecê-la pelo "Tempo" a mim dedicado. Senhoras e Senhores: Marisa Gonçalves.