Projeto Seis e Meia

       POESIAS & CRÔNICAS  

(Aflora)

 

Me surpreendi ao pensar, enquanto me transportava aos shows que acompanhava dos artistas que marcaram meu gosto musical, o quanto a música é, sem sombra de dúvida, a única manifestação artística que goza da unanimidade.


Jamais conheci, suponho até que não exista, uma pessoa sequer no mundo, que não goste de música. Uma única pessoa sequer, plena da audição, que seja absolutamente indiferente a toda e qualquer manifestação musical. Não existe. Aposto.

 

Mas voltando à origem do poema, comecei a me interessar pela obra de Ednardo que já conhecia por alto, de “Pavão Mysteriozo”, “Artigo 26” e “Enquanto Engomo a Calça”. Fui descobrindo e me apaixonando por “Flora”, “Dorothy Lamour”, “Imã”, “Maracatu Estrela Brilhante”, “De Repente”, “Manga Rosa”, “Terral”, e várias outras. Quando percebi, estava esmiuçando as fichas técnicas dos LPs pra descobrir que “aquela viola de 7” era do Dino, e o violão de Manassés.

 

A diversidade rítmica de Ednardo, em ótimas composições de estilos variados, me impressionava. Passei a frequentar os shows, e em um deles, de um balcão lateral ao palco, durante “Flora”, espetacularmente linda e absurdamente desapercebida da mídia, como uma espécie de comparação entre o glamour e a essência; entre o clarão e o perfume, veio a inspiração e a necessidade de agradecer pela simplicidade e beleza de um artista que aparentemente não tinha como objetivo, o estrelato.

 

Sempre tive a sensação, com raras exceções, que a maioria dos artistas, durante o curso de suas carreiras, quando agraciados pela fama, começam a se distanciar da essência original do trabalho em prol da “conquista” de novos “nichos de mercado”. O termo é técnico, para adequar-se ao caráter explicitamente comercial que os novos rumos parecem objetivar.

 

Prefiro acreditar que tal mudança não seja premeditada. Seja apenas um novo momento de novos gostos, interesses, ou de apostas em novos projetos. Pois a inquietude da alma artística é latente. E talvez a inspiração criativa, como tudo na vida, seja cíclica.

 

Nos caberia então, artistas, o convívio harmônico com o imponderável e a grata satisfação pela eternidade de toda obra realizada, que nos torna suscetíveis ao redescobrimento. Como os LPs.

 

(Flora - Climério / Dominguinhos / Ednardo)